quinta-feira, 28 de abril de 2011

O filófoso espanhol Ortega y Gasset tem uma das frases lapidares do sofrido século XX; dizia ele: "Eu sou eu e minha circunstância e se não a salvar, não me salvarei". Esse conceito nós devemos aplicar não só aos indivíduos mas, enquanto diplomatas brasileiros, também a nosso país.
O Brasil é um país que vem crescendo, às vezes lentamente mas sempre inexoravelmente. Já somos um país grande e podemos muito bem supor que seremos um país cada vez maior. Crescemos dentro de nós e crescemos no mundo, em nossa circunstância. E isso nos coloca frente à pergunta crucial, que nós diplomatas nos devemos fazer sempre: nós crescemos no mundo, para que?
Desde quando nos lembra a história, países têm crescido e potências têm surgido e se sucedido como protagonistas no cenário internacional. Potência após potência. Império após Império.Mas têm crescido sozinhos, sem se preocuparem, genuinamente, com o crescimento de suas circunstâncias: por isso se perderam. Porque as circunstâncias dos países são os outros países e, hoje, cada vez mais, todos os outros países. As potências se sucederam na história, umas após as outras, sem deixar nenhum lastro ontologicamente novo e diferente nas relações internacionais, que não fosse o da dominação e destruição de suas circunstâncias. Que não fosse o egoísmo do crescimento a todo custo.

O Brasil cresce, inexoravelmente e um dia vamos ser uma potência. Mas - volto a perguntar - cresce para que? Apenas para repetir, sem inovar, uma tradição política milenar? Então, se for assim, isso significará apenas que nós seremos ricos, teremos submarinos nucleares e fronteiras vigiadas e seguras, colheitas gigantescas, centros de pesquisa avançadíssimos, moeda forte; seremos grandes, nos imporemos pelo mundo a fora, poremos e disporemos. Eventualmente, alguns descontentes queimarão umas bandeiras nossas aqui e ali, talvez explodam umas bombas de protesto contra nós em Copacabana ou aqui na Rodoviária e assim,aos poucos, estaremos, ineludível e implacavelmente, cercados de estrangeiros. Depois, quando estivermos então entrando em nossa decadência - a História registrará, em sua longa lista de impérios, o nosso, como um pequeno império de turno a mais, que o egoísmo dos homens gerou e que um dia sucumbirá a outro, na corrida implacável da história como nós a conhecemos. (Discurso proferido pelo Embaixador Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, Paraninfo da Turma Zilda Arns do Instituto Rio Branco por ocasião da cerimônia de formatura, Palácio do Itamaraty - Brasília, 5 de novembro de 2010)

Tomando o texto acima como referência, escreva uma dissertação acerca da pertinência da seguinte indagação: O Brasil cresce, inexoravelmente e um dia vamos ser uma potência. Mas, volto a perguntar - cresce para que? Apenas para repetir, sem inovar, uma tradição política milenar?

Ideologia e Utopia - Karl Mannheim

"O conceito de ideologia reflete uma das descobertas emergentes do conflito político, que é a de que os grupos dominantes podem, em seu pensar, tornar-se tão intensamente ligados por interesses a uma situação que simplesmente não são mais capazes de ver certos fatos que iriam solapar seu senso de dominação. Está implícita na palavra ideologia a noção de que, em certas situações, o inconsciente coletivo de certos grupos obscurece a condição real da sociedade, tanto para si como para os demais, estabilizando-a, portanto.

O conceito de pensar utópico reflete a descoberta oposta à primeira, que é a de certos grupos oprimidos estão intelectualmente interessados na destruição e na transformação de uma dada condição de sociedade que, mesmo involuntariamente, somente vêem na situação os elementos que tendem a negá-la. Seu pensamento é incapaz de diagnosticar corretamente uma situação existente

Clarice Lispector - Água Viva

"Quando se vê, o ato de ver não tem forma - o que se vê às vezes tem forma, às vezes não. O ato de ver é inefável. E às vezes o que é visto também é inefável. E é assim certa espécie de pensar-sentir que chamarei de "liberdade", só para lhe dar um nome. Liberdade mesmo - enquanto ato de percepção - não tem forma. E como o verdadeiro pensamento se pensa a si mesmo, essa espécie de pensamento atinge seu objetivo no próprio ato de pensar. Não quero dizer com isso que é vagamente ou gratuitamente. Acontece que o pensamento primário - enquanto ato de pensamento - já tem forma e é mais facilmente transmissível a si mesmo, ou melhor, à própria pessoa que o está pensando; e tem por isso - por ter forma - um alcance limitado. Enquanto o pensamento dito "liberdade" é livre como o ato de pensamento. É livre a um ponto que ao próprio pensador esse pensamento parece sem autor.

O verdadeiro pensamento parece sem autor.

Clarice Lispector. Água Viva.

Elabore dissertação acerca da afirmação "o verdadeiro pensamento permanece sem autor."

"O verdadeiro pensamento parece sem autor" insere-se na incessante impossibilidade de apreensão do real, sempre incompleto e fugidio. Clarice Lispector produz uma obra ao modo de uma invocação literária que nos remete à reflexão sobre o tempo, o ser e a linguagem. O objetivo da autora em seu texto-suma "Água Viva" foi a sondagem de mecanismos psicológicos e a busca para o nível da palavra por percepções difíceis de serem transpostas ao nível da linguagem.

A afirmativa de que o verdadeiro pensamento parece sem autor remete-nos à transfiguração da realidade no universo literário de Clarice Lispector, que considera os pensamentos reais como aqueles que indagam um saber filosófico, que faz o ser humano voltar-se a si. Uma busca pela ancestralidade, a procura pelo "it" (objeto que pulsa vida. A autora aponta frequentemente para a questão da comunicação pela via da palavra como indivisível e intraduzível, que escapa constantemente à compreensão. O significante que permeia um futuro "vir a ser" da linguagem.

O pensamento verídico é não autoral devido ao potencial dele em tornar-se a personificação do grito de uma fera. A última obra de Clarice Lispector, produzida três anos antes de sua morte é uma celebração à vida, a todas as forças universais e reflexões mais íntimas do sujeito.

Dessa maneira, esse pensamento que não quer ter nome, não deseja autoria, traz inúmeras ponderações sobre o tempo presente, o instante comparado à roda do carro, que, ao tocar o chão já se transformou em outro instante e o anterior já é passado.

Em termos conclusivos, o objetivo da autora em sua obra era alcançar o fluxo atráves de um texto poético, intenso e vibrante. A autora afirma que gênero já não a pega mais, da mesma maneira como afirma que o verdadeiro pensamento não necessita autor. A intenção é chegar no "é" da coisa, alcançar seu "it" e, para isso, denominações são descartadas.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Os Bruzudangas - Lima Barreto

O Bruzudanga tem carvão, mas não queima o seu nas fornalhas de suas locomotivas. Compra-o à inglaterra, que o vende por bom preço. Quando se pergunta aos sábios do país porque isto se dá, eles fazem um relatório deste tamanho e nada dizem. Falam em calorias, em teor de enxofre, em escórias, em grelhas, em fornalhas, em carvão americano, em briquetes, em camadas e nada explicam de todo. Os do povo, porém, concluem logo que o tal carvão de pedra da Bruzundanga não serve para fornalhas, mas, com certeza, pode ser aproveitado como material de construção, por ser de pedra.

BARRETO, Lima. Os Bruzundangas.

Comente o excerto de Lima Barreto, em especial a respeito do contexto a que a obra se refere.

A narrativa "Os Bruzudangas" é obra póstuma de Lima Barreto publicada durante o período da República Velha (1920).Nesse período ocorria excessiva concentração nas mãos das oligarquias rurais do poder econômico e político. A narrativa é de um local imaginário em que o nepotismo, altos impostos e corrupção prevaleciam. Os detentores do poder utilizavam suas influências para passarem a seus descendentes os privilégios adquiridos. Nesse período ocorria grande marginalização social produtora de grandes desigualdades e exclusão social.

O trecho dos Bruzundangas menciona um carvão imaginário que não serve para queimar em fornalhas, mas tem sua utilidade na construção civil. Uma crítica clara do autor em relação aos detentores da tecnologia e o que podem somente suprir matéria primárias. O autor é bem contemporâneo aos problemas sociais que persistem até hoje.
E, com as horas de sono, as recordações, a leitura de minha ocorrência e alternância da luz e da sombra, o tempo passou. Tinha lido que na prisão se acaba perdendo a noção do tempo. Mas, para mim, isto não fazia sentido. Não compreendera ainda até que ponto os dias podiam ser, ao mesmo tempo,curtos e longos. Longos para viver, sem dúvida, mas de tal modo distendidos que acabavam por se sobrepor uns aos outros. E nisso perdiam o nome. As palavras ontem ou amanhã eram as únicas que conservavam um sentido para mim.

Quando, um dia, o guarda me disse que eu estava lá há cinco meses, acreditei, mas não compreendí. Para mim, era sempre o mesmo dia, que se desenrolava na minha cela, e era sempre a mesma tarefa que eu perseguia sem cessar. Nesse dia, depois de o guarda ter saído, olhei-me na minha bacia de ferro. Pareceu-me que minha imagem ficava séria, mesmo quando tentava sorrir para ela. Agitei-a diante de mim. Sorri, e ela conservou o mesmo ar severo e triste. O dia acabava e era a hora de que não quero falar, a hora sem nome, em que os ruídos da noite subiam de todos os andares da prisão, num cortejo de silêncio. Aproximei-me da janela e, à última luz, contemplei uma vez mais a minha imagem. Continuava séria, e que há de espantoso nisso, se nesse instante eu também estava sério. Mas ao mesmo tempo, e pela primeira vez nos últimos meses, ouvi distintamente o som. Reconheci-a como a que ressoava há longos dias aos meus ouvidos, e compreendí que, durante este tempo, falara sozinho. Lembrei-me, então, do que dizia a enfermeira no enterro de mamãe. Não, não havia saída, e ninguém pode imaginar o que são as noites nas prisões."

CAMUS, Albert. O estrangeiro.

Comente o excerto de Camus.

Camus filosofa em seus escritos sobre o conceito do absurdo, especialmente no início da narração de O estrangeiro. Ele narra a morte de sua mãe e seu retorno à terra natal. Uma perspectiva isenta de sentimentos é presente na narrativa. A noção contrária à arte como manifestação do sentimento humano é destaque na obra. Um tédio avassalador compõe os dias do narrador na prisão. Tédio, apatia e inexistência de emoções são traços marcantes: "Tinha lido que na prisão se acaba perdendo a noção do tempo.Mas, para mim, isso não fazia sentido." Uma vida vazia dominada por uma crise existencial do presente vivido, em que a vida como essência seja simplesmente viver.
Camus aponta para o simplismo que às vezes pode parecer nossas vidas,o que nos leva ao conceito de absurdo. A narrativa é um desmascaramento que esmiuça os dramas humanos a partir do conflito pessoal do narrador levando-o à ordinariedade e finitude humana diante da morte, sem sentimentos ou racionalidade nas relações vividas.

Redação - Euclides da Cunha - Os Sertões

Ao mover-se, afinal,esta fração abnegada foi rudemente investida. O inimigo tinha na ocasião o alento do ataque e a certeza na própria temibilidade. Acometeu ruidosamente, entre vivas entuiásticos, por todos os lados, em arremetida envolvente. Embaixo começou a bater desabaladamente o sino; a igreja nova explodia em descargas, e, adensada no largo, ou correndo para o alto das colinas, toda a população de Canudos contemplava aquela cena, dando ao trágico do lance a nota galhofeira e irritante de milhares de assovios estridentes, longos, implacáveis...
Mais uma vez o drama temeroso da guerra sertaneja tinha o desenlace de uma pateada lúgubre.
O desfecho foi rápido. A última divisão de artilharia replicou por momentos e depois, por sua vez, abalou vagarosamente, pelo declive do espigão acima, retirando.
Era tarde. Adiante até onde alcançava o olhar, a expedição, esparsa e estendida pelos caminhos, estava, de ponta a ponta, flanqueada pelos jagunços...

CUNHA, Euclides. Os Sertões. Disponível em
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000091.pdf

O trecho da obra "Os Sertões" de Euclides da Cunha relata o desfecho do massacre de Antônio Conselheiro e seus seguidores no final do século XIX. A situação no nordeste nesse período era muito precária com extrema pobreza e distribuição desigual de recursos. Iniciou-se em 1896 um conflito armado no sertão da Bahia. A revolta durou quase um ano e ocorreu um pouco depois da outorga da Constituição de 1891, que separava a Igreja do Estado e instituía o casamento civil. Tais fatos fizeram com que a população religiosa ficasse insatisfeita com o rumo dos acontecimentos, além da cobrança exagerada de impostos. O Estado interfere e combate o grupo de revoltosos. Somente no quarto combate as forças foram vencidas, o que gerou a morte de inúmeros idosos, mulheres e crianças.

Mário de Andrade - Poesias Completas

Eu sou Trezentos...

Eu sou trezentos, sou trezentos e cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh Pirineus, ôh Caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos e cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.

ANDRADE, Mário de. "Eu sou trezentos..." (07/06/1929).in: Poesias Completas.p.211

Analise o poema de Mário de Andrade, com ênfase nos recursos da linguagem.

O poema de Mário de Andrade inclui-se no Modernismo Brasileiro, manifestação artístico-literária ocorrida no século XX que teve como marco a Semana de Arte Moderna de 1922.Liberdade de estilo, aproximação da linguagem escrita com a linguagem falada são características modernistas presentes no poema acima. A quebra da estrutura formal da poesia foi um traço marcante no movimento. Além disso, pode-se citar também a ausência de rimas e o predomínio de frases diretas com ênfase no registro mais informal ou coloquial. Outra característica deles era a apropriação do discurso do outro (no caso, o civilizado europeu)de maneira antropofágica à nossas raízes culturais. "E os suspiros que dou são suspiros alheios".
Enfim, o poema possui características do período modernista e enfatiza a liberdade de escrita e o exercício antropofágico na criação de uma arte eminentemente nacional.

Michel Foucault - A ordem do discurso

" O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo porque,pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar".
Foucault, Michel. A ordem do discurso.

Analise a relação entre o conceito de discurso de Foucault e o discurso diplomático.


A análise foucaultiana baseia-se no discurso como algo que queremos nos apoderar. Os sistemas de dominação, ao longo da história, vinculam discurso à dominação.Analogamente, também se pode enfatizar o discurso da língua formal como a única aceita,norma a qual não se pode romper, à exceção de alguns geniais escritores.

A síntese entre o discurso que se quer proferir e o que se almeja privilegiar é muito convidativa. Dessa forma, o discurso diplomático deve necessariamente buscar harmonia entre os sistemas de poder. A manutenção do prestígio por alguns está em nossa raiz cultural. A desigualdade social e o preconceito linguístico são traços arraigados e que necessitam revisão. Acreditar que o conhecimento de uma língua é privilégio de poucos é não querer construir uma sociedade democrática em que a inclusão social impere.O discurso diplomático deve necessariamente buscar harmonia entre os sistemas de poder. O discurso deve ser bem elaborado entre os que o utilizam como acesso ao poder e distinção.
A questão da busca pelo poder é inerente ao homem.No poder entendido como "governo", vários discursos tiveram de fragmentar-se para que pudessem ser realizados em suas especificidades lingüísticas e discursivas. O discurso diplomático é, de algum modo,esse poder pelo qual se deseja apoderar, poder este que se traduz no discurso adequado, formalmente polido, dentro dos padrões de cortesia. É imprescindível que o discurso esteja dentro dos padrões da norma culta, caracterizando-se pela formalidade, concisão e domínio dos fatos narrados. Entre questões importantes estão o protocolo, o conceito de estados iguais e um conjunto de expectativas e o senso de comportamento adequado.
Dessa forma, é por meio do discurso diplomático, que é o substrato das relações internacionais, que se estabelece o diálogo e a manifestação dos interesses específicos representados pelo diplomata. Os princípios, ideias e intenções ocorrem por meio do diálogo e, após a observação das reações, positivas ou negativas, se evoluem as discussões e as negociações. Os discursos são modelados pelo diplomata e tornam-se elemento constitutivo do exercício da profissão.

Foucault aponta para as variadas regras que se estabelecem para a realização do discurso e e de que maneira são produzidos jogos de poder. Existem três tipos de exclusões:a interdição, separação/rejeição e a vontade de verdade.Na interdição o discurso é controlado, não é permitido a fala aleatória. Nele, ocorre uma exclusão do sujeito que fala pelo seu distanciamento, um ritual de circunstância e um direito privilegiado. Na separação/rejeição tem-se o discurso dos loucos, que devem ser apartados da sociedade para que não se ouça o que têm a dizer. A vontade de verdade aponta para a busca por uma verdade construída subjetivamente ao longo da história.
Assim, percebe-se o discurso como algo que se quer apoderar, objeto de ânsia de muitos que buscam a ascensão ao poder. Ele se traduz não somente os dicursos históricos da humanidade, mas também algo do qual se quer ter para si, um poder distintivo.

Em um nível mais internacional, os temas em pauta na agenda internacional são aqueles propostos pelos países centrais e aproximação da agenda com estes países é possibilidade de inclusão no cenário internacional. O movimento dos não alinhados pode ser considerado conduzido, o que gerou uma consequente ruptura do diálogo Norte-Sul.Com a pressão internacional que o Brasil recebeu na década de 1980 em relação à destruição da amazônia, foi necessário um refreamento para que a imagem do país pudesse erguer-se novamente. Foi pelo discurso efetivo que o Brasil encaminhou o assunto e avançou na legislação em relação ao tema.

Assim, diante de uma nova posição foi possível conter a destruição ambiental e constituir uma legislação ambiental, que hoje é referência mundial Destaca-se também a atuação brasileira na Conferência Internacional sobre Direitos Humanos, em Viena. É a prática da diplomacia e a legitimidade de seu discurso que dá forma e consistência ao sistema de relações internacionais.

Um ponto importante a ser salientado é o aspecto negociador do discurso diplomático. A necessidade do consenso é essencial, mesmo que tais medidas não logrem aplicabilidade imediata. É por meio da ruptura do diálogo ou por ausência que o processo se frustra. Dessa maneira, pode-se afirmar que a essência da atividade diplomática, por meio de seu discurso, que é também uma forma de poder, que ocorre a conciliação e o equilíbrio entre as partes.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Zygmunt Bauman - Revista Cult

Para que a utopia nasça, é preciso duas condições. A primeira é a forte sensação (ainda que difusa e inarticulada) de que o mundo não está funcionando adequadamente e deve ter seus fundamentos revisto para que se reajuste. A segunda condição é a existência de uma confiança no potencial humano à altura da tarefa de reformar o mundo, a crença de que "nós, seres humanos, podemos fazê-lo", crença esta articulada com a racionalidade capaz de perceber o que está errado com o mundo, saber o que precisa ser modificado, quais são os pontos problemáticos, e ter força e coragem para extirpá-los. Em suma, potencializar a força do mundo para o atendimento das necessidades humanas existentes ou que possam vir a existir".

BAUMAN, Zygmunt. Revista Cult. Edição 138. Disponível em:
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/entrevis-zygmunt-bauman/


Comente a relação entre a afirmação do autor e o papel do diplomata no mundo contemporâneo.

O pensamento contemporâneo da "modernidade líquida" de Zygmunt Bauman analisa o sujeito do momento atual com características como o individualismo na afirmação do espaço social, a falta de amparo do Estado aos direitos essenciais do cidadão e a separação total entre poder e política. A função do diplomata é estratégica na direção do pensamento da utopia. Como representante dos interesses do Estado, a possibilidade de inserção global é maior.
Ao pensar no mundo contemporâneo, Bauman contrapõe a figura do caçador e a do jardineiro. O caçador seria o depredador dos bens naturais sem medir as consequências dos atos para as gerações futuras. O jardineiro, por outro lado,um sujeito consciente do passado destrutivo e que semeia bons frutos para que gerações vindouras possam ainda desfrutar da natureza, como nossos antepassados.
De acordo com Bauman, para que a utopia nasça é necessário o sentimento de que algo não funciona, além de coragem e força para acreditar na tranformação dele. Fazer com que as necessidades humanas básicas possam ser atendidas em todo o planeta. Na verdade, a grande utopia do momento presente é a aceitação de gaya, da mãe natureza que provê a humanidade. É deixar que o bem prevaleça sobre o mal.É extirpar completamente as atitudes de um passado histórico sangrento, que foi movido por interesses sórdidos dos homens ao longo da história. Se a prioridade humana fosse o altruísmo ao invés do individualismo as duas guerras do século XX poderiam ter sido evitadas.
O diplomata acaba por tornar-se o sujeito representante da história da humanidade, enquanto aquele que vem em nome do Estado representar interesses específicos de um país. Dessa forma, deveria o mesmo ser o profissional que se dedicasse à melhoria de vida do país que representa. Seria ele o profissional mais indicado à melhoria da qualidade de vida das pessoas de seu país.O Estado deveria ser a instituição incumbida a melhorar a vida das pessoas, conduzindo-as em direção ao pensamento da utopia e colocando-o em prática, na medida do possível.
O poder na atualidade está concentrado nas grandes empresas multinacionais, e não mais nas mãos do Estado. Houve uma cisão entre poder e política. Faz-se necessário uma transformação dessas estruturas para que as transformações possam emergir. Teremos que acreditar que essa façanha é possível para que haja transformação e renovação das velhas estruturas.

Preconceito Linguístico- Marcos Bagno

Redação

"Existe uma regra de ouro da Linguística que diz: "sí existe língua se houver seres humanos que a falem". E o velho e bom Aristóteles nos ensina que o ser humano "é um animal político". Usando essas duas afirmações como os termos de um silogismo (mais um presente que ganhamos de Aristóteles), chegamos à conclusão de que "tratar da língua é tratar de um tema político", já que também é tratar de seres humanos".

MAGNO, Marcos. O Preconceito Linguístico.

Comente a afirmação de Marcos Bagno, especialmente a relação feita pelo autor entre o conceito de Aristóteles e o conceito de Linguística.

Na cultura clássica estão dispostos dois conceitos de homem: como animal que fala, discorre e o homem como animal político. As duas atividades destinam-se a finalidades específicas que estejam entre a atividade de contemplação (theoria) e a atividade do agir moral e político (praxis). Para Aristóteles, o homem é um animal político propriamente pelo elo com a linguagem;a vida ética e política seriam artes de viver segundo a razão.
Para o autor mencionado, a linguagem tem como objetivo o discernimento entre o vantajoso e o desvantajoso; assim como do justo e do injusto. O senso do bom e do mau é característica peculiar humana; assim como do justo e do injusto, entre outros.É a associação dos que têm em comum essas noções que constitui a família e o Estado.
O enunciado linguístico afirma que "só existe língua se houver seres humanos que a falem" demonstra como a necessidade de se comunicar socialmente é forte. O homem deseja externar intenções, praticar ações e intervir socialmente. A afirmativa de Aristóteles confirma o enunciado acima. Assim, com as duas premissas corretas, tem-se a inferência, ou conclusão, de que "tratar da língua é tratar de um tema político",já que é também tratar de seres humanos.
A partir da afirmativa acima, Marcos Bagno escreve "Preconceito Linguístico", em que elabora algumas questões para desmitificar o preconceito da língua veiculado nos meios de comunicação e não examinados com propriedade pela escola. O grande problema apontado por Bagno é a indisfarçada pequenez com que alguns falantes consideram o saber a respeito de sua língua, constantemente carregado com nosso passado colonial e dependente da referência de língua portuguesa falada em Portugal.
Em virtude dos elementos mencionados, a ação política do autor foi uma reflexão efetiva sobre o fenômeno do preconceito linguístico e a maneira como ele afeta o nosso pensar a respeito da língua portuguesa falada no Brasil. A língua deve ser entendida como algo dinâmico e vivo como um grande rio que corre, ao passo que a gramática normativa, um iguapó, ous seja, um local nos brejos dos rios onde a mata fica encharcada. A trasformação do iguapó somente ocorre quando ele se enche. Assim, pode-se afirmar que a obra de Marcos Bagno é também um ato político, na medida em que o autor reivindica para nosso idioma maior liberdade em seu fluxo tranformacional, além da possibilidade do exercício democrático pelo acesso à língua das camadas urbanas de prestígio.