" O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo porque,pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar".
Foucault, Michel. A ordem do discurso.
Analise a relação entre o conceito de discurso de Foucault e o discurso diplomático.
A análise foucaultiana baseia-se no discurso como algo que queremos nos apoderar. Os sistemas de dominação, ao longo da história, vinculam discurso à dominação.Analogamente, também se pode enfatizar o discurso da língua formal como a única aceita,norma a qual não se pode romper, à exceção de alguns geniais escritores.
A síntese entre o discurso que se quer proferir e o que se almeja privilegiar é muito convidativa. Dessa forma, o discurso diplomático deve necessariamente buscar harmonia entre os sistemas de poder. A manutenção do prestígio por alguns está em nossa raiz cultural. A desigualdade social e o preconceito linguístico são traços arraigados e que necessitam revisão. Acreditar que o conhecimento de uma língua é privilégio de poucos é não querer construir uma sociedade democrática em que a inclusão social impere.O discurso diplomático deve necessariamente buscar harmonia entre os sistemas de poder. O discurso deve ser bem elaborado entre os que o utilizam como acesso ao poder e distinção.
A questão da busca pelo poder é inerente ao homem.No poder entendido como "governo", vários discursos tiveram de fragmentar-se para que pudessem ser realizados em suas especificidades lingüísticas e discursivas. O discurso diplomático é, de algum modo,esse poder pelo qual se deseja apoderar, poder este que se traduz no discurso adequado, formalmente polido, dentro dos padrões de cortesia. É imprescindível que o discurso esteja dentro dos padrões da norma culta, caracterizando-se pela formalidade, concisão e domínio dos fatos narrados. Entre questões importantes estão o protocolo, o conceito de estados iguais e um conjunto de expectativas e o senso de comportamento adequado.
Dessa forma, é por meio do discurso diplomático, que é o substrato das relações internacionais, que se estabelece o diálogo e a manifestação dos interesses específicos representados pelo diplomata. Os princípios, ideias e intenções ocorrem por meio do diálogo e, após a observação das reações, positivas ou negativas, se evoluem as discussões e as negociações. Os discursos são modelados pelo diplomata e tornam-se elemento constitutivo do exercício da profissão.
Foucault aponta para as variadas regras que se estabelecem para a realização do discurso e e de que maneira são produzidos jogos de poder. Existem três tipos de exclusões:a interdição, separação/rejeição e a vontade de verdade.Na interdição o discurso é controlado, não é permitido a fala aleatória. Nele, ocorre uma exclusão do sujeito que fala pelo seu distanciamento, um ritual de circunstância e um direito privilegiado. Na separação/rejeição tem-se o discurso dos loucos, que devem ser apartados da sociedade para que não se ouça o que têm a dizer. A vontade de verdade aponta para a busca por uma verdade construída subjetivamente ao longo da história.
Assim, percebe-se o discurso como algo que se quer apoderar, objeto de ânsia de muitos que buscam a ascensão ao poder. Ele se traduz não somente os dicursos históricos da humanidade, mas também algo do qual se quer ter para si, um poder distintivo.
Em um nível mais internacional, os temas em pauta na agenda internacional são aqueles propostos pelos países centrais e aproximação da agenda com estes países é possibilidade de inclusão no cenário internacional. O movimento dos não alinhados pode ser considerado conduzido, o que gerou uma consequente ruptura do diálogo Norte-Sul.Com a pressão internacional que o Brasil recebeu na década de 1980 em relação à destruição da amazônia, foi necessário um refreamento para que a imagem do país pudesse erguer-se novamente. Foi pelo discurso efetivo que o Brasil encaminhou o assunto e avançou na legislação em relação ao tema.
Assim, diante de uma nova posição foi possível conter a destruição ambiental e constituir uma legislação ambiental, que hoje é referência mundial Destaca-se também a atuação brasileira na Conferência Internacional sobre Direitos Humanos, em Viena. É a prática da diplomacia e a legitimidade de seu discurso que dá forma e consistência ao sistema de relações internacionais.
Um ponto importante a ser salientado é o aspecto negociador do discurso diplomático. A necessidade do consenso é essencial, mesmo que tais medidas não logrem aplicabilidade imediata. É por meio da ruptura do diálogo ou por ausência que o processo se frustra. Dessa maneira, pode-se afirmar que a essência da atividade diplomática, por meio de seu discurso, que é também uma forma de poder, que ocorre a conciliação e o equilíbrio entre as partes.
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