Eu sou Trezentos...
Eu sou trezentos, sou trezentos e cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh Pirineus, ôh Caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos e cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
ANDRADE, Mário de. "Eu sou trezentos..." (07/06/1929).in: Poesias Completas.p.211
Analise o poema de Mário de Andrade, com ênfase nos recursos da linguagem.
O poema de Mário de Andrade inclui-se no Modernismo Brasileiro, manifestação artístico-literária ocorrida no século XX que teve como marco a Semana de Arte Moderna de 1922.Liberdade de estilo, aproximação da linguagem escrita com a linguagem falada são características modernistas presentes no poema acima. A quebra da estrutura formal da poesia foi um traço marcante no movimento. Além disso, pode-se citar também a ausência de rimas e o predomínio de frases diretas com ênfase no registro mais informal ou coloquial. Outra característica deles era a apropriação do discurso do outro (no caso, o civilizado europeu)de maneira antropofágica à nossas raízes culturais. "E os suspiros que dou são suspiros alheios".
Enfim, o poema possui características do período modernista e enfatiza a liberdade de escrita e o exercício antropofágico na criação de uma arte eminentemente nacional.
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