quarta-feira, 27 de abril de 2011

Redação - Euclides da Cunha - Os Sertões

Ao mover-se, afinal,esta fração abnegada foi rudemente investida. O inimigo tinha na ocasião o alento do ataque e a certeza na própria temibilidade. Acometeu ruidosamente, entre vivas entuiásticos, por todos os lados, em arremetida envolvente. Embaixo começou a bater desabaladamente o sino; a igreja nova explodia em descargas, e, adensada no largo, ou correndo para o alto das colinas, toda a população de Canudos contemplava aquela cena, dando ao trágico do lance a nota galhofeira e irritante de milhares de assovios estridentes, longos, implacáveis...
Mais uma vez o drama temeroso da guerra sertaneja tinha o desenlace de uma pateada lúgubre.
O desfecho foi rápido. A última divisão de artilharia replicou por momentos e depois, por sua vez, abalou vagarosamente, pelo declive do espigão acima, retirando.
Era tarde. Adiante até onde alcançava o olhar, a expedição, esparsa e estendida pelos caminhos, estava, de ponta a ponta, flanqueada pelos jagunços...

CUNHA, Euclides. Os Sertões. Disponível em
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000091.pdf

O trecho da obra "Os Sertões" de Euclides da Cunha relata o desfecho do massacre de Antônio Conselheiro e seus seguidores no final do século XIX. A situação no nordeste nesse período era muito precária com extrema pobreza e distribuição desigual de recursos. Iniciou-se em 1896 um conflito armado no sertão da Bahia. A revolta durou quase um ano e ocorreu um pouco depois da outorga da Constituição de 1891, que separava a Igreja do Estado e instituía o casamento civil. Tais fatos fizeram com que a população religiosa ficasse insatisfeita com o rumo dos acontecimentos, além da cobrança exagerada de impostos. O Estado interfere e combate o grupo de revoltosos. Somente no quarto combate as forças foram vencidas, o que gerou a morte de inúmeros idosos, mulheres e crianças.

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