quinta-feira, 28 de abril de 2011

O filófoso espanhol Ortega y Gasset tem uma das frases lapidares do sofrido século XX; dizia ele: "Eu sou eu e minha circunstância e se não a salvar, não me salvarei". Esse conceito nós devemos aplicar não só aos indivíduos mas, enquanto diplomatas brasileiros, também a nosso país.
O Brasil é um país que vem crescendo, às vezes lentamente mas sempre inexoravelmente. Já somos um país grande e podemos muito bem supor que seremos um país cada vez maior. Crescemos dentro de nós e crescemos no mundo, em nossa circunstância. E isso nos coloca frente à pergunta crucial, que nós diplomatas nos devemos fazer sempre: nós crescemos no mundo, para que?
Desde quando nos lembra a história, países têm crescido e potências têm surgido e se sucedido como protagonistas no cenário internacional. Potência após potência. Império após Império.Mas têm crescido sozinhos, sem se preocuparem, genuinamente, com o crescimento de suas circunstâncias: por isso se perderam. Porque as circunstâncias dos países são os outros países e, hoje, cada vez mais, todos os outros países. As potências se sucederam na história, umas após as outras, sem deixar nenhum lastro ontologicamente novo e diferente nas relações internacionais, que não fosse o da dominação e destruição de suas circunstâncias. Que não fosse o egoísmo do crescimento a todo custo.

O Brasil cresce, inexoravelmente e um dia vamos ser uma potência. Mas - volto a perguntar - cresce para que? Apenas para repetir, sem inovar, uma tradição política milenar? Então, se for assim, isso significará apenas que nós seremos ricos, teremos submarinos nucleares e fronteiras vigiadas e seguras, colheitas gigantescas, centros de pesquisa avançadíssimos, moeda forte; seremos grandes, nos imporemos pelo mundo a fora, poremos e disporemos. Eventualmente, alguns descontentes queimarão umas bandeiras nossas aqui e ali, talvez explodam umas bombas de protesto contra nós em Copacabana ou aqui na Rodoviária e assim,aos poucos, estaremos, ineludível e implacavelmente, cercados de estrangeiros. Depois, quando estivermos então entrando em nossa decadência - a História registrará, em sua longa lista de impérios, o nosso, como um pequeno império de turno a mais, que o egoísmo dos homens gerou e que um dia sucumbirá a outro, na corrida implacável da história como nós a conhecemos. (Discurso proferido pelo Embaixador Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, Paraninfo da Turma Zilda Arns do Instituto Rio Branco por ocasião da cerimônia de formatura, Palácio do Itamaraty - Brasília, 5 de novembro de 2010)

Tomando o texto acima como referência, escreva uma dissertação acerca da pertinência da seguinte indagação: O Brasil cresce, inexoravelmente e um dia vamos ser uma potência. Mas, volto a perguntar - cresce para que? Apenas para repetir, sem inovar, uma tradição política milenar?

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